Wednesday, May 17, 2006

NOITE DE TERROR


Com espírito funéreo
Eu entrei no cemitério.

O terror da meia-noite
Me abateu com seu açoite.

Carcaças podres e novas
Saíram de suas covas;

Abalando as estruturas,
Destruíram sepulturas.

E libertaram cativos:
Cadáveres redivivos.

Confesso que eu nunca quis
Contemplar esses zumbis.

No meio dessas sondagens,
Eu vi outros personagens:

Feiticeiras assassinas
Comiam tenras meninas.

Uns duendes canibais
Comiam restos mortais.

Os velhos bruxos malvados
Gargalhavam transtornados;

Na sua negra magia,
Tortura e necrofagia.

No céu, morcegos medonhos
Anunciavam maus sonhos.

Mil fantasmas transparentes
Arrastavam mil correntes.

E eu escutava ganidos
De lobisomens temidos.

Enquanto no céu olhava
Um urubu que passava.

Um vento soprava forte
Trazendo sinais de morte.

Um zumbi de dentes pretos
Andava sobre esqueletos.

Eu via monstros campônios
E legiões de demônios.

O fogo-fátuo dos ares
Acendia os meus pesares.

E as vis caveiras medonhas
Pareciam bem risonhas...

Eu via nessas caveiras
Expressões tão zombeteiras...

Vi facas ensangüentadas
E cabeças degoladas.

E velas pretas acesas
Iluminando torpezas.

Um grito de maldição
Vindo debaixo do chão

Eu escutei com cuidado
E fiquei apavorado.

Tomado por um afã,
Reconheci: “É Satã!”

Com um tom de bizarrice,
O Rei do Inferno me disse:

“Ora, sei que estás aflito,
Mas vem, poeta maldito!

Venha ao sofrimento eterno!
Vem comigo para o Inferno!”

Depois de ouvir essa voz,
Senti um terror atroz

E nesse pavor horrendo,
Eu fugi, saí correndo.

E planejei este esquema:
Vou transformar em poema

Este horrível pesadelo,
Eternizando-o com zelo.

2 comments:

Gino Ribas Meneghitti said...

Caralho velho... dei uma percorrida pelos seu versos e lhe confesso que não me senti em nenhum momento em casa, mas isto não significa que não me tenha feito refletir sobre a nossa pequenez e sobre a fatalidade da existência. Também sou fã do augusto dos anjos e do cruz e souza e além de gostar de poesia, acima de tudo respeito o pensamento alheio. Não tenho nenhuma crítica nem mesmo nenhum elogio, mas gostaria de me expressar e dizer que mesmo a vida possuindo este lado horrendo, espantoso e desprezível, ainda podemos pensar e refletir a idéia do bem e do belo transcendente...
você parece acreditar na vingança como forma de justiça, não sei quem você cultua e não deu pra sacar o que você prega, mas e daí, come bosta, bebe sangue, e aí, qual a sua contribuição para a sociedade? falar de mazelas e de espíritos das trevas é fácil, todo mundo sabe disso, ninguém ignora a existência do mal, mas e aí? qual é a sua?

William said...

Reticências, minha poesia não reflete necessarriamente o meu posicionamento diante da vida. Como Fernando Pessoa disse certa vez, "o poeta é um fingidor". Se você possuir pelo menos um mínimo de conhecimento de teoria literária, deve saber que existe uma figura chamda "eu lírico". Há uma enorme diferença entre o eu lírico e a pessoa do poeta. Eu não faço poesia para fazer pregações de qualquer ordem, seja política ou religiosa. No caso da Poesia da Podridão, eu apenas tento enxergar alguma beleza em coisas que são aparentemente horrendas e deixo que o "eu lírico" fale por mim, como faz todo bom poeta e todo bom ficcionista. Quando eu escrevo sobre assassinatos, doenças e todo tipo de coisa desagradável, é a minha poesia que está falando, não é necessariamente eu. Para termos uma medida de comparação, podemos dizer que quando alguém atribui à minha pessoa o gosto pela morbidez só pela leitura de algo que eu escrevo é a mesma coisa de alguém espancar um ator na rua só porque ele faz o papel de bandido na telenovela. As pessoas não conseguem dissociar a figura do ator e do personagem que ele interpreta, da mesma forma que não conseguem separar a poesia do poeta. A poesia tem que ser associada ao "eu lírico", e não necessariamente à figura do poeta. A interpretação do texto fica a cargo de quem lê.