Tuesday, May 23, 2006

AVISO! AVISO! AVISO!

O conteúdo textual e imagístico deste blog é expressamente NÃO RECOMENDÁVEL para menores de 18 anos, pessoas de estômago fraco e facilmente impressionáveis, moralistas hipócritas, maricas e afrescalhados em geral.

Às pessoas de espírito livre, desprovidas de preconceito e amantes da poesia em TODOS os seus gêneros: BEM-VINDOS AO BLOG "A POESIA DA PODRIDÃO"

INTRODUÇÃO: A ESTÉTICA DO FEIO


"I believe I could eat your cancer when It turns black" - Kurt Cobain

Geralmente, o que as pessoas esperam da poesia é que ela trate de assuntos considerados universalmente "poéticos". Mas o senso comum acerca desse conceito é que os tais "assuntos poéticos" dizem respeito apenas a textos que tratem de temas como o amor, a amizade, a paz, e outros temas congêneres. A poesia dita "escatológica" é tida, por um consenso quase geral, como algo a ser repudiado na literatura.
Os poetas que ousaram escrever textos com temática considerada como escatológica, invariavelmente, eram e são tachados de "malditos". Essa é uma denominação que não vem de hoje. Desde os tempos de Byron, passando pelos decadentistas, pelos simbolistas e pelos expressionistas, os poetas que versaram a respeito de morte, putrefação, decomposição, perversões sexuais e outros temas considerados mais "pesados", eram considerados "anti-poéticos".
À época do lançamento de seu volume de poemas denominado Eu, o poeta paraibano Augusto dos Anjos enfrentou esse problema por parte da crítica e também por parte de uma parcela do público leitor acostumada às inocentes líricas românticas, ou às inócuas extravagâncias parnasianas. Acusaram seu livro de ser anti-poético justamente por muitos poemas versarem a respeito de assuntos como a decomposição da matéria orgânica.
Esse fenômeno de preconceito literário se arrasta até os dias de hoje. A poesia escatológica é considerada como uma literatura menor, ou até mesmo como uma anti-literatura, justamente por remar contra maré e abordar os tais temas anti-poéticos.
Um dos maiores poetas brasileiros vivos chama-se Glauco Mattoso, e vários de seus poemas têm a temática centrada na escatologia. A poesia de Mattoso mostra que a qualidade de um texto não precisa necessariamente estar vinculada a "temas bonitinhos". Ele escreve, por exemplo, sobre chulé com maestria ímpar.
O presente livro (e agora, um blog da internet, também) nasceu de uma inconformidade. Cansei de ver a fútil sociedade atual venerar e se curvar aos padrões estéticos da maldita e famigerada "ditadura da beleza". É preciso lambuzarmos de fezes os rostos bonitos que aparecem nas capas das revistas de "celebridades". É preciso jogarmos pus e todo o tipo de excremento corporal e matéria orgânica em decomposição em toda essa futilidade. E o lugar para o feio, para a estética do feio, onde fica?
O livro de poesia A Poesia Da Podridão (agora transformado também em blog) pode ser considerado quase um manifesto contra a beleza fútil, o sorrisinho falso, a celebridade descerebrada (mas bonita e, só por isso, festejada), a burrice, o "bom gosto" daqueles que, na verdade, não possuem gosto nenhum. Os poemas tratam de temas por vezes agressivos, talvez repugnantes, mas todos os poemas são uma tentativa de remar contra a maré e festejar tudo o que é feio. É uma crítica ácida aos idiotas que se curvam e consideram "bonito" e "de bom gosto" aquilo que a ditadura midiática da beleza lhes impõe.
Os poemas do livro-blog A Poesia Da Podridão são chocantes, em sua maioria. Mas a intenção é justamente essa. Temos que chocar, chacoalhar, estremecer os idiotas que seguem padrões que a mídia impõe, nessa desgraçadíssima ditadura da beleza.
Quanto à forma, os poemas seguem um padrão clássico de metrificação e de rima. Há vários sonetos, forma fixa de composição poética consagrada por escolas literárias como o Parnasianismo. Há desde as métricas populares, como as redondilhas maior e menor até os decassílabos. As influências se estendem desde Álvares de Azevedo, Byron, Augusto dos Anjos e Marquês de Sade até Glauco Mattoso.
A podridão é a podridão, mesmo. Mas ela não é gratuita. Como já insisti em parágrafos anteriores, tem um propósito. Que o leitor inteligente entenda.

William Duarte
Cuiabá, 30 de Maio de 2005

VERMES!


Agora que estás morto no caixão,
Passeiam sobre ti milhões de germes;
E em teu corpo o que eu vejo agora, então?
Vermes!

Microorganismos matam sua fome
Comendo as tuas carnes tão inermes;
Sei qual é o fator que te consome:
Vermes! Vermes!!

Apodreces, e tua alma se vai junto
Na terra, com as roxas epidermes;
Eis os bichos que comem teu defunto:
Vermes! Vermes!! Vermes!!!

QUERO COMER AS CARNES PODRES DO TEU CADÁVER



Agora que estás morta e apodrecendo,
Oculta na clausura do caixão,
Eu quero, com a fome de um leão,
Comer o teu cadáver estupendo!

Necrofagia: É disso que eu entendo!
Quero comer a tua podridão,
Mastigar e engolir com emoção
O que os vermes também estão comendo.

Eu vou te devorar com meu critério:
Vou invadir o velho cemitério,
Desenterrar teus cálidos destroços,

E devorar teu corpo podre e preto;
E após sobrar apenas o esqueleto,
Eu vou querer lamber até seus ossos!

OS TEUS PÁLIDOS OLHOS DE DEFUNTO


Eu olhei a manchete do jornal:
"A polícia encontrou mais um presunto!"
Reparei no detalhe principal:
Os teus pálidos olhos de defunto.

A foto mostra um corpo em pleno chão.
"Do que foi que morreste?" - Eu me pergunto.
Resultado da decomposição:
Os teus pálidos olhos de defunto!

O teu cadáver vai deteriorando
E os teus olhos também se estragam junto;
E, surpreso, eu prossigo contemplando
Os teus pálidos olhos de defunto...

O ESQUELETO


Eras bela, saudosa senhora,
E hoje estás enterrada em chão preto;
E o que és, eu te digo agora:
Esqueleto!

Tua beleza de fundo mistério
Se quebrou como um frágil graveto;
Se perdeu no feroz cemitério:
Esqueleto! Esqueleto!!

Tuas carnes - sutis labirintos! -
Sobre as quais o meu verso arremeto,
Devorada por vermes famintos:
Esqueleto! Esqueleto!! Esqueleto!!!

DOIS CADÁVERES SOB O SOL ARDENTE


Minha querida, é muito bom revê-la
Depois de muito tempo ter passado;
É um quase surrealismo surpreende-la
Deitada neste campo desolado;
`Inda sinto brilhar a tua estrela,
Embora em tudo tenhas transformado.
Pois a aparência que tu tens agora
Em nada se parece co’a de outrora.

Teus olhos tão tranqüilos e serenos
Mostravam a tua alma em si contida
E agora estão cerrados, sem ao menos
Mostrar um único sinal de vida;
A tua pele e o teu corpo, outrora plenos,
Se encontram de uma forma ressequida.
É muito triste a minha hostil visão:
Em ti vejo brotar a podridão.

Antigamente andavas perfumada
E agora estás tão podre, estás fedendo...
Tua boca está muda, tão calada...
Vejo um verme teus lábios carcomendo;
Teu cadáver na terra desolada
Tão estático vai apodrecendo.
A vida para ti fechou a porta
Agora que estás podre, que estás morta.

Mas, querida, eu não quero, eu não aceito
Ver teu corpo deitado nesta terra;
Pego uma faca e encravo no meu peito
Para que o sangue que o meu corpo encerra
Devolva a ti a vida neste leito
E tire-a deste estado que me aterra.
Mas não adiantou... Tu não viveu...
E o meu cadáver tomba sobre o teu!

Querida, estamos mortos, finalmente...
Ninguém suportará nossos fedores!
Nossos restos mortais, mui lentamente,
Fecundarão a terra sem mais dores
E nós adubaremos, francamente,
As mais vistosas e serenas flores.
Ressurgirá a vida no arrebol
De dois defuntos podres sob o sol.

A TUA BOCA ESTÁ CHEIA DE VERMES


Eu fui ao cemitério te exumar
E conferi as tuas formas toscas:
A tua boca podre, singular,
Assediada por nojentas moscas.

A tua boca está cheia de vermes...

Teus lábios purulentos, ressecados,
Consumidos por forças corrosivas
Deixam ver os teus dentes cariados
E essas tuas negríssimas gengivas.

A tua boca está cheia de vermes.

Tua bocarra podre escancarada
Revela tua língua carcomida;
Essa boca por vermes devorada
É murcha e negra flor apodrecida.

A tua boca está cheia de vermes!

Teus lábios são as pétalas da rosa
Que se desfolha, que se despedaça;
A tua carne roxa se necrosa,
Apodrece tão lenta essa carcaça...

A tua boca está cheia de vermes!!

Eu não suporto mais tanto fedor!
Eu quero me afastar da podridão!
Cena horrível! Que horror! Que horror! Que horror!
Oh, não! Oh, não! Oh, não! Oh, não!! Não!!! NÃO!!!

A tua boca está cheia de vermes!!!

UM FORTE FEDOR DE CARNIÇA



Caminho apressado nas ruas
E observo umas carnes tão cruas...
Essa atra visão só me atiça!
As carnes são carnes de mortos,
Cadáveres pútridos, tortos,
Com forte fedor de carniça.

Eu tento agüentar o fedor...
Não dá! Não suporto esse horror!
Sucumbo a essa triste premissa;
As pálidas peles murchando
Nos corpos vão sempre exalando
Seu forte fedor de carniça.

Eu olho e suspiro de enfado,
Observo com todo cuidado
A carne tão podre e mortiça.
Penetra em meus pobres pulmões
A hostil das hostis podridões:
Um forte fedor de carniça.

INDIGENTE

Triste mendigo, eu sei teu destino,
Pois sei que estás infeliz, doente.
O teu futuro? Sim, imagino:
Ser enterrado como indigente.

Triste mendigo, estás podre em vida
E estarás mais podre brevemente;
E a morte ri e já te convida:
Ser enterrado como indigente.

Triste mendigo, tu vais morrer,
Te tornarás podre lentamente;
É inevitável de acontecer:
Ser enterrado como indigente.

COMENDO CARCAÇA PODRE DE CACHORRO MORTO


Oh, Fome Necrofágica Infinita!
Oh, cheiro irresistível de carniça!
Comer cachorro morto é uma cobiça
Que o estômago alimenta e sempre incita.

Cão morto e apodrecido sempre excita
O apetite especial que em mim se atiça!
A boca come e nunca desperdiça
A carne apodrecida tão bonita!

Delícia das delícias! Quase morro!
Comer carcaça podre de cachorro
É muito bom! Cão morto é o meu manjar!

A carne morta, podre e tão fedida
-- Carne de cão é minha preferida! -
É gostoso ao meu nobre paladar!

UM CORAÇÃO ROÍDO PELOS VERMES



Eu sei que vou morrer
Sentindo solidão
E vai apodrecer
Meu pobre coração.

Vou desaparecer
Embaixo deste chão;
Meu peito vai arder
Na eterna podridão!

Foi sempre desprezado
Meu peito machucado
(Oh, lágrimas inermes!)

Meu coração doído
Será todo roído,
Roído pelos vermes!

COMENDO FEZES

Estou com fome
Que nunca some
E me consome
Sem exegeses;
Estou sem paz
-- Oh, fome audaz! -
Eu sou capaz
De comer fezes.

Estou sofrendo,
Vou padecendo,
Só vou comendo
As maioneses;
Mas isso é zero,
Eu sou sincero,
Apenas quero
Comer as fezes.

Meu paladar
É singular!
Vou refutar
As suas teses;
Vou deglutindo
Dejeto lindo;
Vou prosseguindo
Comendo fezes.

LAMBENDO LEPRA


O leproso de carnes carcomidas
Sente-se mal e quase desfalece;
Acaricia as pútridas feridas
Sempre lambendo a lepra que apodrece.

Lambe o sangue, lambe o pus, lambe as cascas
Das feridas, e a lepra sempre cresce;
O morfético enfrenta as suas vascas
Sempre lambendo a lepra que apodrece.

Mas oh! Que sina horrível! Que má-sorte!
De sua dor o pobre nunca esquece...
Espera calmamente a própria morte
Sempre lambendo a lepra que apodrece.

Monday, May 22, 2006

BALADA DO ENFORCADO


Foi num dia de enorme solidão,
De céu cinzento e intensa chuva fina,
Que o suicida, com dor no coração,
Nessa hora que o destino determina,
Foi vencido por grande depressão
E, chorando, cumpriu a sua sina.
Morreu com o pescoço estrangulado:
Foi solitária a morte do enforcado.

Dominado por ânsia dolorida,
Afogado no mar da decadência,
Esse jovem, cansado desta vida,
Deu a si esta mórbida incumbência:
A de ter a garganta comprimida
Pela corda e deixar esta existência.
Foi amarrada a corda com cuidado:
Foi solitária a morte do enforcado.

Nesse instante fatal e depressivo
Em que a alma estava em um profundo poço
Foi que ocorreu o fato conclusivo:
O cadáver co’a corda no pescoço!
Pendurado e ostentando olhar esquivo
Concluiu seu suicídio o triste moço.
Triste cena, a do corpo pendurado:
Foi solitária a morte do enforcado.

E depois desse hostil falecimento,
Pelos vermes o morto é devorado;
Ninguém presenciou seu sofrimento:
Foi solitária a morte do enforcado.

COVA COLETIVA


Quando ocorre uma incrível mortandade
De forma acachapante e mui nociva,
Os corpos são jogados sem piedade
E apodrecem em cova coletiva.

Defuntos totalmente estraçalhados:
Da morte não se escapa, nem se esquiva;
Em um grande buraco são jogados
E apodrecem em cova coletiva.

Para todos, a morte é uma armadilha,
Mas para os vermes é hora tão festiva...
Os mortos se amontoam numa pilha
E apodrecem em cova coletiva.

BEBENDO MISTURA DE VÔMITO E DIARRÉIA


Eu gosto de beber
E de me entorpecer
Com o meu gosto indômito
E de toda bebida,
A minha preferida
É o meu espesso vômito.

Meu vômito é amargo,
Mas dele eu nunca largo,
Eu bebo sem parar.
E quando ele se finda,
Engulho mais ainda
E torno a vomitar.

Em uma só golfada
Eu jogo na privada
Meu vômito em geléia;
Mas, ah, que gostosura!
Eu bebo essa mistura
De vômito e diarréia.

CHUPANDO FURÚNCULO



Esse amarelo líquido viscoso
Que sai do meu furúnculo com zelo
Passa a impressão de ser muito gostoso...
Ah, que vontade louca de bebê-lo!

E o verde e grosso líquido gosmento
Que também sai da pútrida ferida
Também parece ser tão suculento...
Eu quero desferir uma lambida!

Todo esse pus que sai aos borbotões
Do furúnculo podre que há em mim
Eu sorvo co’o furor dos furacões
Como se fosse um mórbido pudim.

Toda essa saborosa podridão
Que está em mim é linda e nunca seca;
Chupando o necrosado carnicão,
Prossigo deglutindo essa meleca.

GONORRÉIA



Eu procurei a prostituta
Só para ter alguma idéia
Como é transar de forma astuta
Com a mulher com gonorréia.

Delícia assim não há igual:
Lamber a pútrida morféia.
Proporcionei prazer oral
Para a mulher com gonorréia.

Seu pus molhou meu céu da boca
E se escorreu pela traquéia;
Lambi de forma muito louca
Essa mulher com gonorréia.

COMENDO CARNE PODRE DE RATO COM MOLHO DE SANGUE DE BODE


Meu paladar é raro, isso é um fato.
No momento em que o estômago sacode
Pela fome sarcástica que explode,
Eu busco co’a comida algum contato.

Mas ouça bem meu mórbido relato:
Eu como e até lambuzo o meu bigode
Com sangue que eu retiro só de um bode
E como junto com um podre rato.

Carne podre de rato é uma delícia,
Essa carne ao estômago é carícia,
Carniça deliciosa e tão fedida...

E com sangue de bode o rato fica
Bem mais gostoso. Essa é uma boa dica,
Essa é minha iguaria preferida.

AUTOMUTILAÇÃO

Eu pego a minha faca
E começo a cortar
A minha própria carne
P’ra eu mesmo devorar.

Com a faca eu me corto
Até que o sangue flua;
Eu corto a minha carne
E como mesmo crua.

A muitos, isso é mórbido,
Mas para mim é mágica:
Eu como a minha carne
Com gula antropofágica.

COMENDO CASCA DE FERIDA E LAMBENDO O PUS


Oh, minha querida,
A tua ferida
Está necrosando;
Eu quero uma lasca,
Vou comer a casca
Que está se formando.

Querida, essa tua
Ferida tão crua
Parece gostosa;
Teu negro tumor
Parece uma flor
Que, agora, necrosa.

É um grande prazer
Lamber e comer
A casca tão preta;
O grosso cascão
Eu tiro co’a mão
E engulo sem treta.

Co’a casca arrancada,
A pele rosada
Então se revela
E eu vejo um esboço
De um líquido grosso
De cor amarela.

Teu pus amarelo
Tem gosto singelo
Ao meu paladar;
É bom engolir
Teu pus e sentir
Teu doce manjar.

A doce e gosmenta
Ferida nojenta
É boa, acredite!
O pus tu me dás
E, assim, satisfaz
O meu apetite.

BEBENDO CUSPE E CATARRO


Toda vez que eu me embebedo
Caio duro e não me arredo
Desse chão de puro barro;
E cospem na minha boca...
Prossigo, de forma louca,
Bebendo cuspe e catarro.

Minha boca vai inchando
Com cuspe que vão jogando,
-- Quantia de encher um jarro! -
Mas até que eu acho lindo...
Sendo assim, vou prosseguindo
Bebendo cuspe e catarro.

O catarro é muito grosso,
Daria p’ra encher um poço
Mas eu bebo o espesso escarro;
As pessoas, meu amigo,
Vão cuspindo e eu prossigo
Bebendo cuspe e catarro.

O CANIBAL


Busco sempre saciar
Minha fome soberana,
Mas meu gosto salutar
É comer a carne humana.

Como vivos e defuntos,
Carne fresca e putrefata,
E, se der, como os dois juntos,
Qualquer carne a fome mata.

Mas prefiro deglutir
Alguém vivo, respirando;
Gosto muito de sentir
Quando a morte vem chegando.

Carne humana: é bom comer,
É gostoso e não faz mal;
Posso, assim, satisfazer
Minha fome canibal.

CABEÇAS DEGOLADAS




Estava caminhando pela praia,
Pisando firme as plácidas areias;
Meu coração, então, quase desmaia
Ao relembrar aquelas cenas feias.

Senti uma emoção muito sombria
Vendo as areias tão ensangüentadas.
Descobri a razão dessa sangria:
Milhares de cabeças degoladas!

Lâminas assassinas laceraram
Pescoços tenros em macabras danças;
Assassinos cruéis decapitaram
Homens, mulheres, velhos e crianças.

Mas, oh, que horror, que horror, que horror agudo
Olhar seres humanos degolados;
E o que mais me assustava nisso tudo:
Os seus olhares tão petrificados.

Cruéis facões, sangrentas guilhotinas
Cortaram os pescoços indefesos;
Carnificina das carnificinas
Provocada por ódios tão acesos...

E o Destino me disse: "Não te esqueças
De se lembrar dos rostos das cabeças!"

COMENDO TRABALHO DE MAGIA NEGRA


Eu andava nas ruas tão sozinho...
Realmente, eu não pensava em quase nada;
Até que eu encontrei na encruzilhada
Um tacho de macumba em meu caminho.

No tacho, uma farofa, um frango, um vinho
E sangue de galinha estrangulada;
Algumas velas pretas na beirada
E a imagem de um Exu, um diabinho.

Já era meia-noite, sexta-feira,
Em frente ao Cemitério da Ladeira,
Naquela encruzilhada pavorosa,

Chutei a vela e a horrorosa imagem
E devorei, com fome e com voragem,
A macumba nojenta, mas gostosa.

MORTO POR ATROPELAMENTO


O jovem e contente motoqueiro
Guiando a sua moto envenenada
Se pôs a correr muito pela estrada
Com seu espírito de aventureiro.

Mas ele dirigia tão ligeiro
Naquela estrada velha e esburacada
Que não viu a fatal e inesperada
Vinda de um caminhão, assim, certeiro.

Foi muito violenta a colisão;
Ele se esborrachou no caminhão
Em plena luz do dia! Em plena luz!

O sangue se espalhava pelos solos
Juntamente com todos os miolos
Para matar a fome de urubus.

ABORTO



Foi um dia tranqüilo e tão banal,
Movido por impulso repentino,
Resolvi visitar um hospital,
Um recanto de aborto clandestino.

A garota que eu vi quando eu entrei
Parecia ser filha de burgueses;
Ela disse esta frase: "Eu abortei
E eu estava gestante de seis meses!"

"Mas que crime brutal!" - eu refleti -
"Que lugar desprovido de esperança!"
E, um pouco mais à frente, eu surpreendi
O corpo destroçado da criança.

A cabeça, as perninhas e os dois braços,
Juntos com os fragmentos de outros fetos
Numa lata metálica, aos pedaços,
Como se fossem pútridos dejetos.

Tudo o que agora resta é lamentar...
Mas que horror! Que tristeza das tristezas!
Como podem, assim, assassinar
Criaturas tão frágeis e indefesas?

Eu fico transtornado, imaginando
O cruel e sangrento disparate:
O médico sarcástico quebrando
As cabeças fetais com alicate.

Com o sadismo dos mortais infernos,
Os médicos, com gestos rudes, broncos,
Quebram raivosamente órgãos internos,
Cabeças, pernas, braços, ossos, troncos.

E as mulheres que abortam, o que são?
Criaturas cruéis e desalmadas!
Que despenque sobre elas maldição!
Prostitutas! Canalhas! Desgraçadas!

Mulheres que escancaram as vaginas
À prática abortiva! Vis! Mesquinhas!
Amaldiçoadas bruxas assassinas
Que matam inocentes criancinhas!

Que fique registrado o sentimento
De revolta por essa covardia:
Todos vão, com cabal merecimento,
Pagar pelos seus crimes, algum dia!

UM FINAL ALTERNATIVO PARA "O GUARANI"

A virgem e belíssima Ceci
Deslizava nas águas da ribeira
Ao lado do bravíssimo Peri
Em cima de uma folha de palmeira.

Juntos, eles sumiram no horizonte...
E, daí, ninguém sabe mais de nada.
Mas, sim, eu sei! Eu sei! Deixe que eu conte
O final desta história celebrada!

O casal aportou em terra estável,
Se encarou com desejo e com ternura
E Ceci percebeu, insofismável,
Que, em Peri, uma coisa estava dura.

"O que é isso, Peri, meu índio puro?"
-- Indagou a moçoila tão pudica;
Disse Peri: "Meu pinto que está duro
E eu desejo metê-lo em tua crica!"

Ceci, ruborizada, replicou:
"Por que dizes tamanho barbarismo?"
E Peri: "Novo tempo já chegou!
Ficou p’ra trás o tolo Romantismo!"

Mas Ceci, acanhada, não queria
Ceder aos vis desejos do tarado;
E, por isso, Peri, com rebeldia,
Satisfez seu desejo, assim, forçado.

Espancou a moçoila com violência
E ela desfaleceu, solta no chão;
Peri tirou da virgem a inocência
Permitindo fluir o seu tesão.

Peri pensou: "Por tempos desejei
Ceci; porém eu era um bom palerma;
Agora meus desejos saciei:
Lambuzei-a todinha com esperma!"

Mas Peri não se deu por satisfeito,
Ergueu enorme pedra sobre a bela
E com tamanha força e rude jeito
Esmagou a cabeça da ex-donzela.

O sangue pelo solo se escorreu
- Oh, tétrica tragédia tropical ! -
A morte de Ceci refloresceu
Em Peri sua fome canibal.

Peri mordeu as carnes tão macias
E as engoliu com gula antropofágica;
Deixou apenas ossaturas frias
Nessa história tão mórbida e tão trágica.

Peri gostou bastante da "comida",
Gostou das carnes brancas da senhora;
E traçou sua meta nesta vida:
"Comer" outras donzelas mundo afora.

DENTES PODRES


Aquela mulher na rua
Vindo em minha direção
Nua, nua, toda nua,
Sim! Desperta o meu tesão!
Ela diz: "Sou toda tua,
Me jogue no chão, destrua
Meu corpo sem compaixão!"

Já posso até antever
Prazeres enlouquecidos
Que eu posso, sim, receber
Da mulher com seus gemidos;
Ela abre a boca a gemer
E é nisso que eu posso ver
Seus dentes apodrecidos.

Eu me ponho a vislumbrar
Seus dentes podres quebrados;
Que vontade de chupar
Esses dentes estragados;
Nos podres dentes sem par
Ponho a língüa a passear
Em longos beijos molhados.

ESCARRA NESSA BOCA QUE TE BEIJA


Eu cheguei e abracei minha querida
Mesmo tendo um ataque de pigarro;
Sem querer, eu soltei um grosso escarro
Que molhou sua face enlanguescida.

Ela lambeu meu cuspe, enlouquecida;
Retribuiu o carinho tão bizarro:
Cuspiu em minha boca o seu catarro
E eu engoli a pútrida bebida.

Na tremenda vontade de beber,
Bebemos o catarro com prazer
Nessa sede infernal que nos almeja;

Com catarro na boca, eu encho o busto
E, assim, parafraseio o mestre Augusto:
"Escarra nessa boca que te beija!"

UNHAS PRETAS


Querida, por favor, não me condene:
És a mais porca em todos os planetas
Só pela tua falta de higiene
Refletida nas tuas unhas pretas.

Mas eu te quero e te amo mesmo assim,
Mesmo estando tão sujas tuas gretas;
Eu quero ter você perto de mim
Me mostrando essas tuas unhas pretas.

Meu amor por você não tem fronteira
E se mostra em inúmeras facetas;
E eu provarei, comendo essa sujeira
Incrustada nessas tuas unhas pretas.

O SUOR DAS AXILAS

Só tem algo que eu gosto muito mais
Do que comer as minhas próprias fezes:
É lamber as axilas tão legais
E engolir as fedidas sudoreses.

Eu lambo muito, até ficar cansado,
A minha língua cansa, eu fico fraco;
Mesmo assim, gosto de ficar suado
E lamber sem parar o meu sovaco.

Não existe mais nada tão melhor
Do que lamber sovaco! Não, não há!
Eu gosto de lamber o meu suor
Que fede muito mais do que um gambá!

UM ANO SEM TOMAR BANHO


Sinto um fedor de gambá,
Um cheiro podre e tacanho:
Ah! Não dá! Assim não dá:
Um ano sem tomar banho!

Querida, oh, minha querida,
Nunca vi fedor tamanho;
Sei que estás muito fedida:
Um ano sem tomar banho!

Mas eu adoro! E tu gosta
Desse cheiro tão estranho!
Tu fede mais do que bosta:
Um ano sem tomar banho!

Sei que sou muito nojento,
Mas com isso eu só me assanho;
Beijo o seu corpo grudento:
Um ano sem tomar banho!

COMENDO CASPA E PIOLHO

Querida, de ti não fujo,
De olhos fechados te escolho;
Lambo o teu cabelo sujo,
Comendo caspa e piolho.

O teu cabelo com caspa
Parece um podre repolho
E a minha língua até raspa
Comendo caspa e piolho.

O piolho sai de mim
Como um nojento restolho;
Prossigo nojento assim
Comendo caspa e piolho.

Eu como esse teu cascão
E meu cuspe é o grande molho;
Sou um grande comilão
Comendo caspa e piolho.

LAMBENDO REMELA DE OLHO E COMENDO CERA DE OUVIDO



Querida mulher,
Eu sei que tu quer
Meus olhos grudentos;
Tu queres lamber
Com muito prazer
Meus restos nojentos.

Com grande prazer
Te pões a lamber
A gosma amarela;
É lindo sentir
Você deglutir
A minha remela.

Oh, minha querida
A tua lambida
Me deixa excitado;
Tu lambe a gostosa
Meleca pastosa
Deste olho cansado.

Mas isso não basta,
A língua se arrasta
E adentra um ouvido;
Tu cospe no centro
E lambe lá dentro
Com gesto sentido.

A língua arremessa
E lambe depressa
De forma singela
A doce sujeira,
Gostosa nojeira
A cera amarela.

Com gosto tu come;
Essa tua fome
Provoca alarido;
Tu fica tão bela
Comendo remela
Com cera de ouvido.

COMENDO LOMBRIGA COM MOLHO DE VÔMITO



Foi num banheiro público que eu vi
Uma cena lindíssima e gostosa
E dessa cena eu nunca me esqueci
Pois mostrava uma imagem saborosa.

Espalhado no fétido banheiro,
Um monte de lombrigas pelo chão,
Lombrigas se estorcendo bem ligeiro
Como se fossem vivo macarrão.

Uns bêbados entraram no local
Sentindo cólicas nas vis barrigas;
Passaram a sentir-se muito mal,
Vomitando por cima das lombrigas.

Que cena em minhas vistas fascinadas!
Que imagem eu me pus a vislumbrar!
Lombrigas pelos vômitos molhadas
Como se fossem pútrido manjar!

Mas não! Eu não queria apenas ver!
Eu queria lamber o chão gosmento!
Queria devorar, e com prazer,
O podre e nojentíssimo alimento!

As lombrigas molhadas, melequentas,
Se mexendo nos vômitos, no piso,
Eram muito gostosas e nojentas:
Abriram minha fome e o meu sorriso!

Devorei as lombrigas com vontade
E o vômito eu bebi sofregamente;
Depois, eu arrotei com liberdade
Satisfeito e também muito contente.

Meu apetite é coisa tão incrível...
Mantenho esse apetite nesse tom!
E, assim, posso dizer de modo audível:
Comer lombriga e vômito é tão bom...

Thursday, May 18, 2006

BEBENDO SANGUE DE PORCO


Foi num dia tão bonito...
Dentro do embalo e do agito,
Comecei a dançar rumba;
Foi um Exu que baixou...
Mas quando ele me deixou
Fui ao centro de macumba.

Lá no centro, um sacrifício:
Um porco, em pleno suplício,
Pelos pés dependurado,
Sofria com muitas dores
Pois teve, em meio aos tremores,
O seu pescoço cortado.

O porco sangrava tanto...
Um velhinho pai-de-santo
Olhado por toda a gangue
Se pôs embaixo do bicho,
Foi molhado pelo esguicho,
Tomou um banho de sangue.

A gangue de médiuns via
O velhinho que bebia
O sangue que se esguichava
E quanto mais esse velho
Se banhava de vermelho
Bem mais o porco sangrava.

Então todos se juntaram
E no sangue se banharam
E eu também entrei na dança;
Do porco o gordo pescoço
Vertia o líquido grosso
E eu enchia a minha pança.

Eu bebia com prazer
Aquele sangue a escorrer
Do porco, naquele corte;
O sangue que nós bebíamos
Com respeito oferecíamos
Ao senhor Exu da Morte.

COMENDO PAPEL HIGIÊNICO USADO


Eu vivo a revirar
Todo o nojento lixo
P´ra fome saciar
Comendo como bicho.

Eu me ponho a comer
Igual um neurastênico;
Eu como com prazer
Até papel higiênico.

No meio do fedor
Procuro com cuidado
E como com furor
Papel utilizado.

LAMBENDO CHULÉ


Teus pés vou chupar
Igual picolé,
Eu quero ficar
Lambendo chulé

Teu pé é fedido,
Nojento ele é;
Eu fico esquecido
Lambendo chulé.

A língua passeia
De frente e de ré,
No pé serpenteia
Lambendo chulé.

Tu fica a feder
Que nem a ralé
Vou permanecer
Lambendo chulé.

Ah, isso é tão lindo!
Teu pútrido pé...
E, assim, vou seguindo
Lambendo chulé.

COMENDO GAMBÁ VIVO


O estômago pede
Um bicho que fede
Para a refeição.
Detalhe furtivo:
Quero comer vivo
O bicho podrão.

Eu sei, vou morder
E ele vai morrer
Com minha mordida;
E após eu matar
Eu vou devorar
A carne fedida.

Mas, oh, que fedor,
Que doce sabor,
Melhor que jabá;
Eu vou repetir:
Quero deglutir
Um podre gambá.

CHEIRANDO PEIDO

Querida, tu peida gostoso!
Eu fico até mesmo aturdido
Cheirando esse extrato gasoso,
Cheirando teu peido fedido.

Teu peido, estrondoso perfume,
Penetra até mesmo no ouvido;
Eu sinto um gostoso azedume
Cheirando teu peido fedido.

É bom de cheirar e de ter
Teu peido ao meu lado aquecido;
Eu sinto um enorme prazer
Cheirando teu peido fedido.