Thursday, May 18, 2006

UM PEDAÇO DE CÉREBRO NO CHÃO



O helicóptero pousa de mansinho
Sem fazer muito alarde ou vibração;
E o que eu observo, então, em meu caminho?
Um pedaço de cérebro no chão.

O piloto infeliz saiu de dentro
Do helicóptero e fez uma menção
De pular... Foi aí que eu vi, no centro,
Um pedaço de cérebro no chão.

Mas vejam só que coisa horrível, triste...
O piloto não teve tempo, não,
De se esquivar dessa hélice bem riste:
Um pedaço de cérebro no chão.

O piloto infeliz, pobre coitado,
Também teve cortada a sua mão;
E, ao lado dessa mão, eu vi jogado
Um pedaço de cérebro no chão.

Mão e cérebro... Cérebro e mão... Sim!
Agora eu entendi a relação!
Aquilo parecia um vil pudim:
Um pedaço de cérebro no chão.

Um cadáver maneta e sem cabeça:
Que terrível e vil revelação!
Uma massa gosmenta e muito espessa:
Um pedaço de cérebro no chão.

Minhas cordas vocais não evitaram
Um grito funeral de maldição;
E os meus olhos aflitos contemplaram
Um pedaço de cérebro no chão.

As hélices mataram o rapaz!
Desse terror eu tinha uma noção
Pois meus olhos olharam, sem ter paz,
Um pedaço de cérebro no chão.

Sim, eu queria muito me esquecer
Daquela horribilíssima visão;
Meus olhos não paravam mais de ver
Um pedaço de cérebro no chão.

Eu queria que não fosse verdade,
Eu queria que fosse uma ilusão;
Aquela era uma triste realidade:
Um pedaço de cérebro no chão.

A morte foi horrível, isso é fato,
Espero que não tenha sido em vão;
Meu grande desespero foi exato:
Um pedaço de cérebro no chão.

Se estou exagerando, por acaso,
Eu peço humildemente o seu perdão;
Mas a cena que eu vi foi um arraso:
Um pedaço de cérebro no chão.

Fiquei tão enojado com aquilo,
Com aquele asqueroso e branco grão;
Com tudo isso, eu fiquei muito intranqüilo:
Um pedaço de cérebro no chão.

Fiquei tão aturdido e tão nervoso
Que, sem querer, soltei um palavrão;
Espetáculo triste e pavoroso:
Um pedaço de cérebro no chão.

O calor dessa cena tão terrível,
Então, acelerou meu coração;
Coisa tragicamente inesquecível:
Um pedaço de cérebro no chão.

O crânio esfacelado do defunto
Parecia um terreno em erosão;
Eu fiquei enojado desse assunto:
Um pedaço de cérebro no chão.

Os miolos do morto se espalharam
Como uma catastrófica erupção
E os meus olhos, surpresos, avistaram
Um pedaço de cérebro no chão.

Fiquei sem entender aquilo tudo,
Sem saber do porquê e da razão;
Ao ver aquela coisa, eu fiquei mudo:
Um pedaço de cérebro no chão.

Foi incomensuravelmente grande
Minha surpresa e a minha comoção;
Desse jeito, qualquer medo se expande:
Um pedaço de cérebro no chão.

De modo algum jamais quero sentir
De novo essa terrível emoção:
Quero esquecer, sem ter que resumir,
Um pedaço de cérebro no chão.

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